O leitor tem nas mãos a notícia de vida do militante da Ação Popular – AP, Ricardo de Azevedo. Um testemunho para perdurar. E que, espero, estimule outros. Não necessariamente pelo registro em si, mas pela integridade do compromisso de vida com a transformação revolucionária da sociedade brasileira, visível ao longo dos atribulados caminhos que percorreu. Perceptível por aquele instinto sagrado que guia alguns militantes e dirigentes políticos nas horas em que é preciso manter-se numa posição e nas horas em que é preciso mudar de posição para manter-se no caminho. E não se render à acomodação.
Um testemunho que em muitos aspectos, encarna a trajetória de uma geração embora, admitamos, seja fugaz o contorno de uma geração...
Comove, a nós que a vivemos, e a quem se aproximar da experiência narrada por Ricardo de Azevedo nessas páginas, dois aspectos, de início: a generosidade da juventude brasileira daqueles anos e a espantosa inconsciência das dimensões da catástrofe que se abatera sobre o país com o golpe de Estado de 1º de abril.
Pedro Tierra, poeta, foi secretário de Cultura do Distrito Federal.
A conquista da sobrevivência é, talvez, o aspecto mais constante do testemunho contido no volume que o leitor tem em mãos. Como assinala o título, bem escolhido por sinal – Por um triz, memórias de um militante da AP –, o autor escapa como que por milagre diversas vezes de ser morto ou profundamente danificado pelas sevícias a que por certo seria submetido caso tivesse sido apanhado. Durante doze anos engajado em construir a Ação Popular (AP), partido de extrema-esquerda originário da Igreja Católica, Azevedo correu riscos incríveis, dos quais saiu ileso apenas por obra apenas da sorte que o protegeu nos inúmeros episódios aqui esmiuçados. Enquanto a repressão ia dizimando sem piedade a AP, um pequeníssimo grupo de militantes conseguiu ficar de pé, “com um certo sentimento de culpa por estar vivo”, conforme registra a escrita direta e objetiva que marca o estilo das páginas a seguir.
André Singer, jornalista e professor de Ciência Política na FFLCH/USP.
Por um Triz (ebook)
Ricardo de Azevedo nasceu em São paulo em 27/11/1948. Foi militante da Ação Popular de 1968 a 1980.Esteve preso no presídio Tiradentes, em São Paulo (1969/70). Exilou-se no Chile, onde, depois do golpe de Estado em 1973, passou um mês preso no Estádio Nacional. Posteriormente, esteve exilado na França até 1976, quando regressou clandestinamente ao Brasil. Fundador do PT, foi membro da Comissão Executiva Estadual do partido (1987/1993). Foi o primeiro diretor da revista Teoria e Debate (1987/1993). Diretor da Fundação Perseu Abramo (1996/2006). Exerceu a predidência dessa entidade entre 2006 e 2008. è casado há 35 anos com Vera Lúcia Lemos Soares.
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