Paulo von Bruck Lacerda e Zeca Sampaio
Quando, tendo por mote um desafio literário, criamos o primeiro croniconto em parceria, operou-se um inusitado amalgamento de vivências poéticas e musicais com uma perspectiva cênica. Deu samba!
As peculiaridades do momento pandêmico enfrentado pela humanidade, dizem muito da ambiência que deu surgimento aos cronicontos. Narrativas ficcionais curtas, inspiradas em conflitos existenciais do cotidiano; com recortes típicos do take audiovisual.
Circunstancialmente, o personagem nasceu no Brasil. Mas poderia ser também, um sans abri que pernoita sob os bancos de praça do bairro parisiense da Bastilha, ou um homeless nova-iorquino. Sua cidade podia ser qualquer uma, ou todas.
A veia satírica é uma forma de indignação e desabafo, em que ironia e humor dividem espaço com valores éticos e princípios.
Essa vertente, na literatura portuguesa, tem no baiano Gregório de Matos Guerra e no português Manuel Maria de Barbosa du Bocage, seus expoentes máximos; e, mais recentemente, na pauliceia pré-modernista do início do século XX, a obra poética La Divina Increnca, de Juó Bananère, pseudônimo de Alexandre Ribeiro Marcondes Machado, que nasceu no ano de 1892 e, curiosamente, faleceu aos 22/08/1933, data que se comemora o Dia do Folclore.
Contudo, não nos esqueçamos de Pietro Aretino, Bertolt Brecht e William Shakespeare entre outros, pois essa plêiade de poetas, com suas criações refinadas e universais, influenciou muito os autores, inclusive estes autores e o poeta.
Como se vê, iniciamos em boa companhia, que esperamos tenham nos ajudado a vagar pelas ruas com algum rumo torto acertado.
Por falar em companhia, o personagem bipolar Greg e Boca – ao mesmo tempo um e dois, como em uma pouco santa dualidade –, é uma homenagem ao baiano Boca do Inferno, assim reconhecido como um expoente da literatura lusófona mundial.
Inicialmente, foram Gregório e Boca de Lobo, mas a síntese dos apelidos, logo consolidou Greg e Boca, já no quarto croniconto.
Greg e Boca, no imaginário dos autores, transitam pelos becos, ruas, praças, muquifos, cafofos, águas furtadas, cabarés, prostíbulos e outros palcos da vida, num sincretismo erudito-profano, a lembrar os saltimbancos itinerantes que, ao longo dos tempos, de diferentes formas e em diversas épocas, sem-pre disseminaram histórias, notícias, divertimentos, críticas e amores entre grupos, povos e culturas. O cenário é o espaço não privado, que habitam com propriedade.
A parceria autoral foi sugerida por Guilherme Purvin, como um exercício literário em duplas, no âmbito do Laboratório Alfabético, criado como uma das atividades do Instituto Brasi-leiro de Advocacia Pública – IBAP. Assim, o primeiro conto teve como mote uma fotografia que resultou na criação do soneto PODEROSOS. O rápido e inusitado entrosamento estimulou os autores a dar sequência às vivências do personagem num ambiente urbano, em plena crise pandêmica.
As vivências literárias teatrais e musicais de cada um, aliadas e complementadas pelas trajetórias de vida de ambos os autores resultou na criação de onze contos, lastrados na realidade urbana paulistana. Daí a categorização das criações como cronicontos.
Ironia, sátira, humor, ao lado de valores éticos, são os insumos dos cronicontos, lhes dando substância e verve, em busca de um futuro mais auspicioso para a humanidade.
Greg e Boca nas ruas (Paulo von Bruck Lacerda / Zeca Sampaio)
Paulo von Bruck Lacerda é poeta, músico, compositor, advogado e Procurador do Estado de São Paulo aposentado. Publicou os livros de poesia Momentos Paulistanos (2014), uma coletânea de criações poéticas realizadas ao longo de mais de 40 anos; Em busca da maioridade do homem - Sonêthos e Sonéthos (2019), Reflexões sobre nós (2021) e O Ser e o Meio (2022). Em 2017, lançou o CD autoral Sou da Madrugada - Sambas, produziu e participou dos CDs da Camerata Violonística Documento Histórico e Do Barroco ao Clássico.
Zeca Sampaio nasceu em 1957, em São Paulo. É músico, compositor de dezenas de canções, além de ator, diretor e autor de teatro, dedicando-se especialmente ao teatro de rua. Na rua também, participa do Vai Quem Qué, bloco de carnaval de São Paulo. Doutor em Educação, foi por muitos anos professor universitário na área de arte educação. Publicou livros de educação, de peças teatrais e livros direcionados ao público infantil. É autor de Tamoios, genocídio em nome de Deus (Terra Redonda, 2001), romance histórico.
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