Já disseram que a literatura morreu, que ninguém mais aguenta livros de autoficção e que livros sobre o escrever já eram. Mas e o Houllebecq? O Carrére? O Vila­Matas? O Mirisola? Só para ficar nos mais populares ... Bem, já disseram tanta bobagem a respeito da literatura que vos aconselho: leiam e mandem os falsos profetas ao fundo do paraíso ( escritor e livro de verdade merece o inferno). Mais uma vez (quem leu "Guia Literário para Machos" sabe disso), Caléu Moraes volta do inferno com suas obsessões corriqueiras: livros, falência, sexo e escritura. Através de um narrador misósofo e misógino, mergulhamos em um mundo sombrio, umbigocêntrico, mas engraçado como o diabo e cheio de uma verdade (terrível) que só as grandes obras têm. Um Thomas Bernhard em Santa Catarina? Uma brisa em Bizâncio? Um canto de Maldoror? Este é um livro áspero, único, difícil de classificar, encaixar em um gênero. Extravasa tudo: até os limites morais e preconceitos dos leitores. É um tijolo e uma porrada. Entupido de referências literárias, cheio de desumanidades (é um Thomas Mann às avessas?), e com uma narrativa fllutuante, você não consegue parar de ler e de odiar o Caléu. E isso é tudo que um escritor de verdade quer. "Declínio e queda de mim mesmo" abre um sorriso e uma ferida em seu leitor, e chega um momento em que você não sabe qual tem dentes e qual tem pus. 
Carlos Henrique Schroeder