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Laura Pereira Alli, minha avó.

Atualizado: há 2 dias

Sergio Alli


Laura Vicente Alli

Essa é a única foto que existe da minha avó paterna, Laura Pereira Alli.


Com as poucas informações disponíveis, depois de algumas contas e raciocínios, concluí que ela nasceu entre 1903 e 1907, na zona rural do atual município de Avanhandava. que fica na região Noroeste do estado de São Paulo.


Segundo o relato oficial, o nome Avanhandava decorre de um salto existente no rio Tietê, no tupi "awe-anhã-aba" = lugar de forte correnteza, ou segundo Theodoro Sampaio, "aba-nhandaba" = lugar onde se corre para evitar perigo à navegação.


Atualmente, a cidade tem cerca de 14 mil habitantes. Sua história tem raízes indígenas e cultiva uma narrativa oficial de “desenvolvimento” ligado à ferrovia Noroeste do Brasil, na qual trabalhou meu avô Vicente Alli, a partir de seus 14 anos. Nascido Hassan, em 1897, em Beirute, no Líbano, ele desembarcou sozinho, em 1908, no porto de Santos. Sem falar uma palavra de Português, foi rebatizado Vicente pelo escrivão que fez seu documento de imigração. Veio ao Brasil para morar com um tio, em São Paulo, e trabalhar para ele na rua 25 de março. Deveria ficar rico e voltar a Beirute para trazer sua família. Entretanto, seu tio era explorador e autoritário. Em 1911, rompeu com ele e, novamente sozinho, foi-se embora para Bauru. Na nova cidade tornou-se ferroviário e jogador do Luzitana Futebol Clube, que anos depois tornou-se o Bauru Atlético Clube (BAC). Em 1923, Vicente e Laura conheceram-se, quando ela trabalhava e vivia como colona em uma fazenda em Avanhandava, possivelmente a mesma em que nascera. Em pouco tempo, casaram-se e ela mudou-se para a casa dele, em Bauru.


No início do século 20, os índígenas que habitavam aquela região, agrupados em duas grandes tribos, coroados e kaingangues, sofriam constantes ataques dos brancos colonizadores. Os kaingangues, povo indígena pertencente ao tronco Jê, eram conhecidos por sua tradição nômade e, em São Paulo, ocupavam territórios que iam desde o Rio Tietê até o Paranapanema.


Com o avanço da construção da Estrada de Ferro e da ocupação genocida da região, esses indígenas quase foram exterminados. Entre os participantes da ocupação houve muitos membros dos Carvalho, família paterna de meu avô materno, Léo Lopes de Carvalho, originalmente cafeicultores no Vale do Paraíba. Um resquício desses antepassados é a tradicional https://www.casacarvalho.com.br/.


Para “apaziguar e integrar” os indígenas, por volta de 1918 veio ao posto local do Serviço de Proteção aos Índios (SPI) o “grande indigenista”, na época coronel, José Cândido Mariano da Silva Rondon.


Pelos traços de minha avó Laura, imagino que ela, provavelmente, era filha de um homem de origem portuguesa com uma indígena kaingangue. O nariz batatudo e as sombrancelhas grossas parecem ser característicos dessa etnia.

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Sérgio Alli é editor da Terra Redonda Editora e autor de 13 anos de Lula e Dilma, à venda no site da Terra Redonda.


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