Em seu livro [In]formalidade, lançamento recente da Terra Redonda, a jovem arquiteta Débora Fernandes coloca em diálogo as escritoras negras Carolina de Jesus, brasileira, e Françoise Ega, francesa, e a própria autora, como mulher e arquiteta negra, para analisar a construção sociorracial urbana de Paris e São Paulo, e os fenômenos de exclusão que conectam essas metrópoles, além de traçar um panorama sobre a atualidade das críticas de Carolina e Françoise.
Mas Débora amplia seu diálogo sobre o racismo com variados interlocutores, desde personagens entrevistados por ela até aqueles que vocalizam na mídia o enfrentamento ao racismo e o desejo de uma sociedade que assegure direitos contra o preconceito e a discriminação. Entre esses diálogos estão as reflexões de Débora evocadas por um episódio do programa Greg News, do ator, humorista e escritor Gregório Duvivier. Na Feira do Livro de São Paulo, no Pacaembú, Duvivier alegrou-se ao tomar conhecimento das considerações de Débora sobre seu trabalho e posou segurando o [In]formalidade, diante da barraca da Câmara Periférica do Livro, onde os livros da Terra Redonda estarão expostos até dia 7/7.
Confira a seguir alguns dos trechos de [In]formalidade em que Débora Fernandes cita Gregório Duvivier:
As bases e os tentáculos desse sistema sociorracial, que encontra no Estado o auxílio aos seus tentáculos, têm sua construção desde a época da escravidão. Para explicar esses pontos é válido utilizar um dos vídeos que mais me tocaram durante a elaboração deste trabalho: “Boa Noite, família” do programa Greg News.
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Um primeiro ponto que o programa abordou foi a base do apagamento negro, sinalizado pelo sobrenome. Sobrenome como sinônimo de linhagem genealógica, história e pertencimento é um privilégio branco: “A verdade é que existe uma enorme parcela do povo brasileiro que não faz a menor ideia de onde os antepassados vieram. São pessoas cujas histórias foram apagadas e que não conhecem seus ancestrais: são os negros brasileiros.” (DUVIVIER, 2021)
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O sobrenome no Brasil era símbolo de dominação. Segundo Censo realizado pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea), em setembro de 2016, cerca de 87,5% dos trabalhadores do cadastro da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais), tinham nomes de origem ibérica (de Espanha ou Portugal), o que evidencia um processo de dominação (cf. Nascimento, 2019). Ao chegar, os negros eram proibidos de utilizar seus nomes e, caso libertos, deviam utilizar o nome de seus senhores, sob risco de serem punidos com a reescravidão.
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“Muitas palavras bonitas para defender queima de arquivo. No fundo Rui [Barbosa] estava preocupado mesmo com a possibilidade de fazendeiros, que se sentiam prejudicados, pedirem indenizações ao Estado”, comentou o apresentador Gregório Duvivier.
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A racialização que é vivida pela população não branca em São Paulo e em Paris é uma realidade. Gregório Duvivier no episódio “Boa Noite, família”, relata essa racialização, que permite que, por exemplo, enquanto o número de assassinatos no país sofreu uma queda de quase 13% em 2020, os assassinatos de negros subiram 11,5% em 10 anos (Atlas da Violência 2020).
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