Jornal ataca Dilma antes de informar que ela foi eleita Mulher Economista de 2023
Sergio Alli, editor da Terra Redonda
O jornal Folha de S.Paulo repete hoje, 12/12/2023, sua incansável prática de difamação contra a presidenta Dilma Rousseff, que pode ser exaustivamente verificada em suas páginas, desde que ela foi ministra do presidente Lula. Desta vez, o pretexto foi o anúncio da eleição da ex-presidenta como Mulher Economista de 2023 pelo Conselho Federal de Economia (Cofecon).
O título da matéria, "Marcada por pedaladas e crise, Dilma é eleita Mulher Economista de 2023", já denuncia sua verdadeira intenção: repetir informações negativas e distorcidas contra a ex-presidenta e informar burocraticamente a honraria prestada a ela pelo órgão de classe dos economistas brasileiros. Por isso, o destaque para "pedaladas e crise" antes de qualquer informação.
Apesar de lembrar de passagem que Dilma é presidente do Banco dos Brics desde março deste ano, a Folha não faz nenhum esforço para noticiar como está sendo seu desempenho na função. Pelo contrário, se apega ao passado, com sua miopia reacionária e antipetista, e usa a maior parte do texto para repisar a ladainha das "pedaladas fiscais" e da responsabilização de Dilma por "um dos mais longos ciclo de queda da atividade econômica da história do país, somando 11 trimestres, do segundo trimestre de 2014 ao quarto de 2016". A forçada de barra não se envergonha de incluir na conta de Dilma (afastada em 12/5/2016) quase 3 trimestres do governo Michel Temer.
Toda a narrativa da Folha é comprometida com a ocultação do fato de que a deterioração da economia teve como principal fator a própria articulação do golpe jurídico-midiático-parlamentar contra Dilma. Tome-se o exemplo da política de desoneração da folha salarial. Ela foi idealizada e implementada, entre 2011 e 2012, pelo empresário Jorge Gerdau Jonhannpeter, que ocupava o cargo de presidente da Câmara de Gestão e Competitividade da Presidência da República e uma sala no Palácio do Planalto. A desoneração substituiu a contribuição previdenciária patronal (20% sobre a folha salarial), por alíquotas diminutas sobre a receita das empresas.
A ampliação irresponsável da desoneração, que chegou a beneficiar 56 setores da economia, foi uma das "pautas-bombas" do presidente da Câmara dos Deputados, Edurado Cunha, usadas para destruir a governabilidade da economia sob o governo da presidenta Dilma, transferindo centenas de bilhões de reais dos cofres públicos para os dos capitalistas. Do outro lado do balcão, esse empresariado permaneceu sabotando a economia e preparando-se para o que consideravam os "benefícios do golpe": a falência da previdência pública e a extinção da legislação trabalhista.
A demonstração desse processo pode ser buscada na própria Folha. Recentemente, seu insuspeito colunista "liberal" Joel Pinheiro da Fonseca repercutiu um estudo do Ipea sobre a política de desoneração: "Enquanto empresas privadas de outros setores expandiram em 6,3% seus empregos com carteira (+1,7 milhão) entre 2012 e 2022, os desonerados encolheram os seus em 13% (-960 mil)". (Marcos Hecksher, "Os Setores que Mais (des)Empregam do Brasil", Ipea, 2023.)
O mesmo Jorge Gerdau Jonhannpeter, mentor da desoneração, operou simultaneamente, nos primeiros anos da década, como uma espécie de secretário-executivo do Instituto Millenium, órgão de articulação da conspiração golpista contra Dilma Rousseff, que contava com participações do diretor de redação da Folha, Otavio Frias Filho (falecido em 21/08/2018), e de João Roberto Marinho, o braço político das organizações Globo.
Em outubro de 2023, sem nenhum debate na sociedade, o Congresso Nacional aprovou a prorrogação, até o fim de 2027, da desoneração da folha de pagamentos para os 17 setores da economia que continuam a ser beneficiados por ela até o próximo dia 31/12. O presidente Lula vetou integralmente essa prorrogação. Imediatamente, lobistas e parlamentares passaram a prometer a derrubada do veto, com evidente apoio dos grandes veículos de comunicação. Entre os 17 setores beneficiados, pelo menos três têm relação direta com interesses do Grupo Folha e das Organizações Globo: Comunição, Tecnologia da Informação e Tecnologia da Comunicação.
A Folha pode sempre tentar distorcer e ocultar, mas nos arquivos de seu Instituto Datafolha está registrado que Dilma Rousseff teve 65% de ótimo e bom em 21/05/2013, enquanto Michel Temer, beneficiário do golpe apoiado pelo jornal, teve o pior registro da história desse índice: 82% de ruim e péssimo, em 7/6/2018.
Sobre a farsa do "desastre econômico" produzido por Dilma, reproduzo a seguir um trecho de meu livro 13 anos de Lula e Dilma (Terra Redonda, 2023):
Os três primeiros anos do primeiro mandato da presidenta Dilma foram aqueles em que o Brasil teve o menor endividamento público nos últimos 40 anos, com índices de inflação entre os menores do período. Esses indicadores estavam associados às menores taxas de desemprego da série histórica. Por fim, o déficit público primário de seu primeiro mandato foi em média o mais baixo da nossa séria histórica, com exceção do período do presidente Lula.
É falso que tenha ocorrido, nos governos da ex-presidenta Dilma, uma explosão da dívida pública, como alardeavam seus adversários para justificarem o golpe que a tirou da presidência da República. Entre dezembro de 2010 e maio de 2016, último mês do governo Dilma, a Dívida Líquida Consolidada do Setor Público passou de 38% para 39,2% do PIB. No período pós impeachment, a equipe econômica de Temer promoveria um salto na dívida pública líquida de 39,2%, em maio de 2016, para 51%
do PIB, em dezembro de 2017, correspondendo a R$ 3,333 trilhões.
De todo modo, a partir de 2014, os resultados fiscais se deterioraram rapidamente. Isso, todavia, foi causado essencialmente pela forte queda no ritmo de crescimento da arrecadação e não pelo descontrole do gasto público.
A falência da arrecadação resultou, em grande parte, de sucessivas leis e “pacotes de maldades”, em 2015, depois que o então deputado Eduardo Cunha elegeu-se presidente Câmara dos Deputados, liderando uma articulação de deputados do chamado “baixo clero” voltada para a desestabilização do governo Dilma. Um dos meios utilizados por Cunha foi a ampliação, sem medida nem critério, das desonerações fiscais que o próprio governo federal havia proposto para alguns setores específicos, tentando fazer frente aos impactos da apreciação excessiva do câmbio.
Houve também, desde o período pré-eleitoral, em 2014, a emergência de um forte e crescente comportamento “de classe” em grande parte do mundo empresarial, que se traduziu no boicote deliberado ao crescimento econômico, por meio do rápido esvaziamento dos investimentos produtivos, e no aumento expressivo da sonegação fiscal. Isso foi acompanhado de forte presença e pressão empresarial junto à base parlamentar, para garantir a concessão de sucessivos programas de refinanciamento dos débitos fiscais (Refis).
Assim, a intensa desaceleração da economia e o quadro de recessão se instalaram no país e fizeram a arrecadação despencar, gerando a grave crise fiscal que serviu de contexto conjuntural para o impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
Em junho de 2016, logo após a aprovação do Brexit no Reino Unido, diante da expectativa de turbulência no mercado financeiro internacional, o Banco Central do Brasil publicou um documento demonstrando a consistência dos fundamentos macroeconômicos do Brasil. O BC, usando seus critérios subordinados aos interesses do mercado financeiro, destacou o nível elevado das reservas, a tendência declinante da inflação, a solidez do sistema financeiro e o quadro reversível das finanças públicas. A análise do BC revelou como era distorcido e manipulado o discurso de legitimação do golpe, feito pela grande mídia e por aqueles que, em grande medida, provocaram o colapso da economia. E que, ao mesmo tempo, conseguiram responsabilizar, com sucesso, o governo Dilma pelo desastre que causaram.
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Sergio Alli é editor da Terra Redonda e autor de "13 anos de Lula e Dilma"., à venda no site da editora e nas plataformas de livros.
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